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O que é mina de aterro e como ela pode transformar a gestão de resíduos?

  • Foto do escritor: Vítor Pereira Faro
    Vítor Pereira Faro
  • 24 de set.
  • 4 min de leitura
Trator compactando resíduos sólidos em mina de aterro, com grande quantidade de lixo plástico no solo.
Mina de aterro.

A busca por soluções sustentáveis para a gestão de resíduos tem ganhado cada vez mais destaque no cenário global. Entre as alternativas em estudo e aplicação, a mina de aterro surge como uma prática inovadora que pode transformar a forma como lidamos com os resíduos sólidos urbanos. Mas, afinal, o que significa mineração de aterros e por que esse conceito vem sendo discutido em projetos de economia circular?


O que é uma mina de aterro?

                 

A mineração de aterros, também chamada de mina de aterro, consiste na escavação de aterros sanitários para a recuperação de materiais neles presentes. Esses materiais podem variar desde metais e solos até resíduos que podem ser aproveitados para geração de energia.


A prática surgiu entre as décadas de 1950 e 1960 nos Estados Unidos, inicialmente como uma resposta à necessidade de criar espaço para novos resíduos. Somente nos anos 1980 o conceito evoluiu, passando a incorporar a ideia de recuperação de recursos. Hoje, está alinhada aos princípios da economia circular, que busca prolongar o ciclo de vida dos materiais e reduzir impactos ambientais.

            

  

Quais são os objetivos da mineração de aterros?


Embora, no início, o foco fosse apenas ampliar a capacidade de aterros, a mineração de aterros passou a apresentar benefícios mais amplos, como:


  • Recuperação de resíduos que antes não podiam ser reciclados;

  • Prolongamento da vida útil dos aterros por meio de sua otimização;

  • Geração de energia a partir de biocombustíveis;

  • Produção de fertilizantes naturais a partir da matéria orgânica recuperada.

Apesar do avanço das tecnologias, ainda existem materiais que não têm aplicação prática viável. Nesse caso, eles são redepositados em aterros sanitários, mas em volumes significativamente reduzidos, o que já representa um grande ganho em termos de espaço e impacto ambiental.


Tecnologias e métodos utilizados


Esse tipo de operação só é possível graças ao desenvolvimento de tecnologias especializadas e métodos de triagem altamente eficientes. Cada etapa, desde a análise de viabilidade até a recuperação de metais e biomassa, é fundamental para garantir que o processo seja seguro, economicamente viável e ambientalmente responsável. Além disso, a aplicação dessas técnicas permite alinhar a gestão de resíduos aos princípios da economia circular, reduzindo desperdícios e reinserindo materiais no ciclo produtivo.


Na prática, a mineração de aterros envolve uma sequência estruturada de ações que unem planejamento, infraestrutura e inovação. Veja como cada etapa contribui para transformar o passivo ambiental dos aterros em valor econômico e sustentabilidade:


  1. Análise de viabilidade econômica dos materiais recuperáveis: Antes de qualquer intervenção, é necessário avaliar se os resíduos encontrados possuem valor econômico ou energético suficiente para justificar a operação. Essa análise garante que os recursos sejam aplicados de forma estratégica.

  2. Escavações para retirada dos resíduos: Com a viabilidade confirmada, inicia-se a escavação do aterro. Esse processo precisa ser feito com segurança, respeitando normas ambientais e de engenharia para evitar impactos negativos ao entorno.

  3. Processamento em esteiras acopladas a peneiras rotatórias: Essa tecnologia ajuda a secar, fragmentar e uniformizar o material, preparando-o para as etapas seguintes de separação.

  4. Separação por tamanho e tipologia: Nessa fase, os resíduos são classificados conforme suas características físicas (orgânicos, inorgânicos, plásticos, metais, etc.). Esse passo é fundamental para direcionar corretamente cada material para sua destinação ou reaproveitamento.

  5. Recuperação de metais por meio de eletroímãs: Metais possuem alto valor comercial e podem ser reciclados inúmeras vezes. Por isso, a utilização de eletroímãs permite separar mesmo pequenas quantidades de ferro, aço e outros metais, agregando valor ao processo.

Esse processo une engenharia, inovação e sustentabilidade, exigindo investimentos em tecnologia para alcançar escala e eficiência.



Economia e sustentabilidade: os benefícios da mina de aterro


A mineração de aterros não é apenas uma alternativa tecnológica para lidar com os resíduos acumulados, mas também uma estratégia que conecta economia e sustentabilidade. Essa prática permite transformar áreas antes degradadas em espaços reaproveitáveis e ainda recuperar materiais de valor comercial, reduzindo a pressão sobre os recursos naturais.


A prática apresenta diversos ganhos relevantes:


  • Otimização da ocupação do solo urbano: Com a extração e reaproveitamento de resíduos em aterros, é possível liberar áreas que antes estavam inutilizadas, permitindo um melhor aproveitamento do espaço urbano e evitando a necessidade de novos locais para disposição de resíduos.

  • Prolongamento da vida útil dos aterros sanitários: Ao recuperar materiais já depositados, reduz-se o volume acumulado e cria-se espaço adicional, prolongando significativamente a vida útil dos aterros existentes e adiando a necessidade de novos investimentos em infraestrutura.

  • Redução de passivos ambientais acumulados: A retirada de resíduos antigos diminui o risco de contaminação do solo, da água e do ar, prevenindo problemas ambientais de longo prazo e reduzindo os custos futuros com remediação.

  • Recuperação de matérias-primas de valor comercial: Materiais como plásticos, metais e papéis podem ser separados e reinseridos na cadeia produtiva, gerando receita e diminuindo a extração de novos recursos naturais.

  • Geração de energia limpa, como biocombustíveis: O aproveitamento de resíduos orgânicos pode ser direcionado para a produção de biogás e biocombustíveis, fornecendo energia renovável e reduzindo a dependência de fontes fósseis.


Apesar do potencial, a mineração de aterros ainda enfrenta entraves:


  • Escassez de estudos sobre seus impactos sociais e ambientais;

  • Limitações tecnológicas para viabilizar projetos em larga escala;

  • Dúvidas sobre a viabilidade econômica, tanto em curto quanto em longo prazo;

  • Necessidade de regulamentações mais claras e incentivos para estimular pesquisas e investimentos.


Existem exemplos reais de aplicação?


Sim! Nos Estados Unidos e na Europa, as pesquisas sobre mineração de aterros estão em estágio mais avançado. Um destaque é o projeto europeu NEW-MINE, concluído em 2020, que reuniu universidades, centros de pesquisa e empresas no desenvolvimento de tecnologias inovadoras voltadas à recuperação de recursos em aterros. Mesmo após o seu encerramento, ele segue como uma importante referência para o avanço dos estudos na área.


Conclusão


A mina de aterro é uma prática promissora que pode transformar a gestão de resíduos, trazendo ganhos ambientais, energéticos e econômicos. Embora ainda enfrente desafios, especialmente no Brasil e em outros países em desenvolvimento, trata-se de uma alternativa sustentável que reforça a importância de investir em soluções inovadoras para lidar com o crescente volume de resíduos gerados pela sociedade.


O futuro da gestão de resíduos pode estar justamente em revisitar o passado – transformando antigos aterros em verdadeiras fontes de recursos para uma economia mais circular e sustentável.


Autores: Pedro Zanotti Mendonça, Maria Eduarda Bus, Jacqueline Cristina Patzsch, Karen Santos Schimidt, Amanda Fetzer Visintin e Vítor Pereira Faro.







 
 
 

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